15.2.10

conforto

sentei-me na minha cama, de manga arregaçada, com o quarto a tremer ao som de violoncelos martirizados.
palpei pela minha gaveta à procura do meu conforto.
encontro-o e puxo-o.
fito-o, silenciosa.
ele está tão silencioso quanto eu, mas ri-se de mim, insano.
aproximo o fio da pele, mas a milímetros dela, páro.
páro e fico estática.
vejo as caras das pessoas que mais amo à frente dos meus olhos, e começo a tremer.
puxo o braço atrás, e olho-o.
olho-o como se nunca a tivesse visto.
olho-o como se no seu fio estivessem espelhados os olhares de desilusão.
olho-o e vejo nela uma cara pálida, sem expressão, morta.
tenho todas as razões do mundo e mais algumas para estar feliz.
será que já cheguei ao ponto de vício?
agarro um punhado de cabelo e ceifo-o, violenta.
isto não mais é tristeza, ou vazio.
é ódio, é repulsa a mim mesma, ao meu corpo, à minha fraqueza.
é esta a minha sina.

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