29.3.10

métodos medicinais

pratico meditação transcendental.
hoje viajei até ao mundo inferior pela primeira vez.
e voltei a vê-lo.
ao início, estava em pânico, a arquejar, a estrebuchar para sair de onde estava.
mas depois ele levou-me até a de onde ele é. (sim, a frase está bem construída)
vi um mundo de sombra, de música que de tão sinfónica destruía os ouvidos, onde ele se mesclava e não era mais que dois pontos de ouro.
e depois partimos de novo para a clareira com a pedra iluminada pelo feixe de luz solar.
vi lá os restantes cinco que estavam na sala, cada um acompanhado por outro animal.
vi a silhueta do totem do meu mestre, algo de enorme, avassalador, pacífico - um elefante.
e vi o gato deitado a meu lado, em toda a sua presença, todo o seu sossego.
e deixou-me tocar-lhe.
e fiz-lhe festas no lombo e atrás das orelhas, e senti o pêlo de sombra dele como fiapos de gelo quente.
e apercebi-me.
todo o tempo que evitei dormir, todo o tempo que acordei com suores frios, todo o tempo que evitava ir para outro estado de consciência.
medo.
puro medo.
do quê?
de mim.
do que ele me pode mostrar.
do gato preto.
acho que agora estou em paz com ele, que já vou poder dormir descansada.
tenho um conselho.
nunca te temas.
nunca negues algo que sabes que faz parte de ti.
aceita o que é teu e não compreendes.
aprende com isso.

(e aconselho outra coisa, um gole de whisky irlandês faz maravilhas a uma dor de cabeça)

10.3.10

citação shakespeariana

que situação ambígua, pá.

To be, or not to be: that is the question:
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them? To die: to sleep;
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to, 'tis a consummation
Devoutly to be wish'd.
Shakespeare, Hamlet 3/1

qual a questão que aqui jaz?
a mesma que me consome a mente todos os dias.
conformo-me, sou consumida pela maré pela qual sou arrastada, atiro os braços ao chão e resigno-me à minha impotência (e portanto descanso)
ou
insisto, de punhos fechados e um dedo espetado no ar, resisto, luto, estrafego, contesto, manifesto-me e não me conformo (e portanto sou destruída dia após dia após dia após dia)?
hmm.
creio que continuarei de braços estendidos contra um mar de problemas, porque quem dorme, quem descansa, quem se resigna, morre.
e digo até a frase cliché "antes morrer de pé a viver de joelhos".
e pergunto aos meus pares se têm realmente tanta vontade de lutar como de dizer que são lutadores.
e pergunto aos que me são superiores na hierarquia social se são tão fracos quanto aqueles contra os quais pseudo-lutam.
e pergunto a todos que me rodeiam se são uns resignados, uns adormecidos, uns mortos.
neste momento só me ocorre falar sobre a Lei Tríplice, sinceramente.
tudo aquilo que faças volta a ti em triplo.
portanto, pensa.
se tu lutares pelo que é bom, correcto, certo (quanto mais não seja só para ti), tudo te será devolvido.

seja, Hamlet, seja.
sê, Hamlet, sê.
sê, pessoa, sê.
sê tudo o que podes ser.